O segundo ponto é que ninguém no mundo acadêmico parece conhecer a iniciativa norte americana, mais precisamente IIoT (Industrial Internet of Things). Esse termo, me parece que poderia ser absorvido muito mais precisamente e com certeza com muito menos temor do que o termo alemão. Afinal ninguém teria medo da internet das coisas para indústria. Digo que é muito mais preciso porque explicita muito melhor o desafio e as oportunidades atualmente presentes, i.e., adicionar a equipamentos, produtos e peças, dispositivos com sensores, armazenando seus dados para posteriormente analisar os dados coletados e armazenados em Nuvem ou Cloud . Isso é possível pelo um custo cada vez menor, tanto dos sensores, como da própria Nuvem. Aliás, sobre esse tema, temos aqui no Brasil, mais especificamente em Joinville uma associação que trata de uma forma mais natural e como muito menos marketing o tema. É a ABII (Associação Brasileira de Internet Industrial), orgulhosamente presidida pelo nosso empresário catarinense J. Rizzo Filho.
Talvez o mais importante, o termo Smart Factory, Indústria 4.0 parece conduzir a um único caminho. A automação do ambiente fabril, eliminando quase que todos os empregos na indústria. Muitos falaram em fábricas escuras, ou seja hostil aos humanos. E é nesse ponto que me parece que o termo alemão mostra sua imprecisão. Afinal se estamos falando de sensores, dados, alarmes, controle remoto, análise e decisões locais, não estamos necessariamente falando em perda de emprego, mas muito provavelmente do inverso. Se uma fábrica será 100% automatizada, eu diria que provavelmente, mas não a curto prazo. Contudo ninguém pode ainda prever como será. Enfim, o caminho natural é na verdade o da criação de empregos em empresas que consigam trabalhar essas informações.
Apenas para dar um exemplo do que eu estou falando: imaginem uma empresa que injeta peças plásticas. A colocação de sensores com o armazenamento de dados em Nuvem poderá ajudar as empresas a entender quando o equipamento irá falhar ou em que situação o processo estará a trabalhar melhor, por exemplo em relação a temperatura do molde ou a pressão na bomba. Veja, é um exemplo simples que melhora a produtividade e não desemprega ninguém. Pelo contrário, possibilitou alguém a trabalhar esses dados e ainda reduziu custos e poluição ambiental.
Ainda, muitos falavam de ruptura imediata com o status quo (disruptivo): o sentimento é que precisa mudar tudo que está aí, pois tudo está errado. Será que não seria muito mais preciso dizer que é um processo evolutivo de automação, digitização, captura e análise de informação que ocorrerá acompanhando as evoluções clássicas, sem prejudicar as iniciativas de implantação de Manufatura Enxuta, Kaizen, TOC, etc? Muito provavelmente, eu diria. Aqui cabe só mais um consideração. Se começamos a transição para a quarta revolução e a anterior iniciou no início da década de 70, quantos anos vai durar essa transição?
Observe que lean manufacturing está diretamente relacionada a terceira revolução e ainda não paramos de ouvir empresas investindo nessas técnicas. Então nenhuma transição é tão curta. A primeira durou cerca de 50 anos (1780-1830) e a segunda começou por volta de 1870 e Ford somente implantou suas linhas de montagem por volta de 1920. Então qual é a razão dessa revolução parecer que vai ser tão imediata. Fica a questão!
Enfim, quero deixar registrado meu sentimento que temos, no presente, uma grande oportunidade para a indústria e para os profissionais não só das engenharias e da computação. Podemos intuir que outras disciplinas também possam se beneficiar. Penso que até mesmo médicos, psicólogos, físicos, matemáticos, químicos poderão aproveitar os dados captados para analisar e propor serviços úteis a indústria. Digo isso, pois todos podem explorar de imediato as oportunidades que estão surgindo, independente da aplicação tradicional de suas disciplinas. Aliás diria que vivemos um momento auspicioso onde com o advento das startups. Hoje qualquer empresa, de qualquer porte, consegue se especializar e oferecer uma oferta específica e única. Isso, com a vantagem de não ser mais importante a localização da mesma. Pode ser nos EUA, em Israel, Europa ou mesmo no Brasil, Não importa. Portanto o tempo é de oportunidade e não de temor. Boa sorte a todos que se aventurarem nesse desafio e esperamos ter muitos brasileiros trabalhando conosco.